Quando meu esposo trabalhou na cidade de Santos - SP, trouxe-me, certo dia, o texto abaixo impresso, retirado do Jornal A Tribuna. Ainda não éramos pais; mas, lendo esse relato, sabíamos que tipo de pais não queríamos ser para nossos filhos! O texto é de 2005, de autoria de Luiz Alca de Sant'Anna.
Quero uma mãe gordinha!
O tom depressivo da garota de 17 anos, no e-mail, me abalou no meio do feriado. E olhe que esta página tem recebido muitas mensagens de adoslecentes, o que é muito bom. no início nem entendi quando ela falava que 'chapou o coco' para ter coragem de escrever e que anda gastando toda a mesada com 'goró', apesar de odiar fazer isso. Tive que pedir ajuda a outro adolescente para saber que 'chapar o coco' é ficar bêbado e 'goró' é a própria bebida. Aí ela descreve o seu drama e a imensa tristeza, sempre nos mesmos termos. Sente-se completamente abandonada pels pais, também muito jovens, de 37 anos, a mãe, e de 41, o pai. Só tem um irmão de 12, que mora com a avó, em Campinas. Em resumo, ambos trabalham, ficam fora o dia inteiro e, quando chegam em casa, mal trocam de roupa e vão para a academia, malhar. Passam lá duas a três horas e depois cada um estica com os amigos para um lado. Nos fins de semana, também fazem seus programas e dizem que é legal a filha fazer os dela. A menina diz que só tem a empregada para 'resumir a semana' (conversar) porque a galera não quer falar disso. Achando-se feia, não quer ficar com ninguém e assim, quando sai, bebe tudo o que tem direito. A mãe só abre a boca para dizer que ela é relaxada, está gorda e com a pela feia e faz comparações com sua própria figura, segundo a menina superbem e com um shape invejável. O pai, que as amigas dela paqueram, é um gato. 'Mas nunca se interessa por nada meu e quando tá em casa dorme ou fica na internet'. O texto do e-mal é longo, mas lá pelas tantas ela diz: 'ontem fui na casa de uma colega do colégio, estudar, e a mãe dela fez bolo de chocolate e suco prá gente e me beijou, cara, coisa raríssima lá em casa. Olhei para ela, vi o jeito de tratar a gente e desejei muito ter uma mãe gordinha assim, sem ser liberalzona, que me controle, não me deixe chegar de madrugada e brigue comigo, mas que se interesse pela minha vida, cara, não deixe eu fazer o que quiser, me dê amor, pô! Não quero só uma mãe e um pai bonitos!' Não soube ainda o que responder-lhe. Preciso explicar-lhe que não se trata de ser gordo ou magro, bonito ou feio, mas de uma carência sem fim. É um duro e amargo relato do momento em que vivemos.