RIO E BRASÍLIA — A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou ontem a suspensão da fabricação, distribuição, venda e consumo, em todo o Brasil, de lotes de 25 sabores dos sucos de soja AdeS. Os lotes foram produzidos em uma das 11 linhas de produção da fábrica da Unilever em Pouso Alegre (MG). Todos os lotes suspensos são de iniciais AG. Além disso, a Unilever terá de prestar esclarecimentos em audiência no Ministério da Justiça, hoje, às 14h, com a participação da Anvisa.
As medidas foram anunciada depois que, na última quinta-feira, a empresa divulgou um comunicado informando que o conteúdo de 96 caixas de 1,5 litro do AdeS de maçã, do lote AGB 25, estava impróprio para consumo. Em vez do suco, as caixas tinha sido envasadas com soda cáustica, o que pode causar queimaduras. Dessas, 36 caixas já foram recolhidas.
Segundo a Anvisa, embora a fabricante tenha relatado falha no processo de higienização das máquinas e problemas específicos no lote do suco de maçã, a agência decidiu suspender os lotes de todos os sabores produzidos na linha de produção em que foi identificada a falha até que tenha “mais informações sobre a verdadeira extensão do problema”. A agência informou que a ação é “preventiva” e que o caso está em investigação.
Foram suspensas as vendas das embalagens de um litro de abacaxi, cereais com mel, chá verde com tangerina, chá verde com limão, chocolate clássico, chocolate com coco, frapê de coco, laranja, maçã, manga, maracujá, melão, morango, original, pêssego, shake morango, uva, vitamina banana, zero frapê de coco, zero laranja, zero maçã, zero original, zero pêssego, zero vitamina banana e zero uva. A medida atingiu ainda as embalagens promocionais de um litro (pague 900ml e ganhe outros 100ml) de laranja, uva e maçã. Também estão suspensas as vendas de 1,5 litro de maçã, uva, laranja e original. Em todos os casos, são as embalagens da série AG.
Em nota, a Unilever afirmou que iniciou, nesta segunda-feira, o cumprimento das determinações da Anvisa, com a retirada do mercado das unidades da linha de produção interditada pela agência. Afirmou, ainda, que vai fornecer as informações necessárias para revogar a interdição. Segundo a Unilever, essa linha de produção está desativada e a distribuição ao mercado dos sucos fabricados nela não ocorre desde o dia 13.
Leia ainda sobre outros escândalos relacionados a contaminação
A Vigilância Sanitária de Minas Gerais e a do município de Pouso Alegre fizeram ontem uma inspeção na unidade da Unilever para verificar as condições da linha de produção e se o incidente que resultou no envase de soda cáustica já foi controlado. Os dois órgãos não informaram, porém, se as inspeções foram concluídas nem o seu resultado. Segundo a vigilância sanitária estadual será produzido um laudo a ser encaminhado à Anvisa para análise.
Os consumidores que ingeriram produto contaminado ou sofreram algum tipo de acidente de consumo podem pedir o ressarcimento dos danos causados à empresa com base no artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), esclareceu o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
— O artigo 6 do CDC estabelece, ainda, como direito básico do consumidor, a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos — explicou o advogado do Idec Daniel Mendes.
Telefone congestionado na unilever
Segundo a coordenadora institucional da Proteste - Associação de Consumidores, Maria Inês Dolci, quem já tiver comprado suco dos lotes suspensos pela Anvisa deve entrar em contato com a empresa ou posto de venda para requerer outro, próprio para o consumo, ou o dinheiro de volta. Os varejistas Carrefour e Guanabara afirmaram que cumprirão todas as recomendações determinadas pela Anvisa. O Walmart retirou todos os AdeS do lote AG de suas 547 lojas.
De acordo com a Unilever, dos 14 atendimentos já realizados pelo Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) a clientes que ingeriram o suco de maçã de conteúdo alterado, 12 receberam atenção médica adequada e estão sendo acompanhados. Dois não a aceitaram. A empresa informou também que, devido ao grande número de ligações para o número 0800-707-0044, as linhas telefônicas têm estado congestionadas. Por isso, sugeriu que o consumidor entre em contato por e-mail (sac@ades.com.br).
Para Leonardo Mancini, chefe do departamento de Jornalismo e professor de Gestão de Crise da ESPM-Rio, a Unilever pode sofrer para conquistar de volta os consumidores. Apesar de ter tomado a iniciativa de informar o incidente, a empresa foi tímida e ampliou a crise ao falar de solução de limpeza e não citar a possibilidade de queimaduras.
— O caso afeta uma relação de confiança muito forte, que é a relação entre pais e filhos. A forma como a empresa tratou o assunto, que gerou desconfianças até da Anvisa, amplia o desgaste. O próprio site da marca não parece entender a gravidade: o comunicado é apenas uma das mensagens da página, com o mesmo destaque que promoções.
Fonte: O Globo