Lei da Palmada: antes de proibir é preciso informar
Por Mariliz Vargas
Este novo projeto de lei, que proíbe palmadas, beliscões e outros castigos físicos aplicados às crianças, é a princípio positiva, por levantar a questão a respeito dos meios que utilizamos para educar nossas crianças. O tema nos obriga a refletir sobre os métodos ditos educativos. O que leva um pai a bater numa criança? A palmada realmente tem função educativa ou coloca-se como manifestação de desequilíbrio de um adulto perante uma manifestação infantil? A palmada é, sem dúvida, uma forma de comunicação muito eficiente, que mostra no nível físico aquilo que não se conseguiu comunicar em qualquer outro nível. Mas tudo tem dois lados, e é preciso analisar todos os lados da questão para não corrermos o risco de medidas superficiais.
Esta é uma lei de proteção ao menor, que é naturalmente desfavorecido fisicamente, e por isso vitima fácil de abuso. Não é uma lei que proíbe que se eduque uma criança, mas tenta, através da ameaça de punição, segurar a mão de um pai que se lança em direção a uma criança, com todo o peso da sua posição de adulto.
Sabemos que o ideal não é agredir de maneira alguma, seja lá quem for, mas devido à complexidade da tarefa de educar uma criança, muitas vezes nos vemos sem alternativa. A ciência não nos oferece pistas confiáveis de qual melhor caminho a tomar, e muitas vezes parece mais confundir do que esclarecer. A tradição recomenda a palmada. A psicologia prescreve o diálogo, mas não fornece meios concretos para aplicar suas propostas na prática cotidiana. E o governo chega e impõe a sua lei. Agredir fisicamente não pode. Mas agredir verbalmente, que muitas vezes causa um dano ainda maior naquele pequeno ser, parece que continua valendo.
O fato é que esta lei nos exige mais empenho neste ato sagrado que é educar uma criança. Ele nos alerta do perigo do movimento fácil, irrefletido e irresponsável. Mas a tal lei pode escancarar a brecha da permissividade, retirando das mãos de um pai e de uma mãe, o poder de manifestar fisicamente aquilo que verbalmente nem sempre é eficiente.
Se o governo quer contribuir na educação que um pai dá a seu filho então que o faça de maneira certa. Ofereça a ele meios alternativos a este da palmada, informe este pai de algo que realmente o ajude, no mesmo ato que o informa de que ele está proibido de praticar a palmada. Podemos até concordar com a proibição deste gesto agressivo, mas o que poderá ser feito com uma criança que precisa ser contida?
Esta lei poderá agravar ainda mais este quadro. Não irá coibir os pais doentiamente violentos, assim como nenhuma lei coíbe o crime quando a intenção da pessoa é cometer o delito. Irá coibir aquele pai consciente, aquele que seguramente não cometeria extremos de violência contra seu filho. É justamente este pai que precisa ser informado dos seus direitos, de formas mais modernas e eficientes de lidar com seu filho, ou seja, de alternativas para a secular palmada.
Sobre a autora:
Mariliz Vargas é psicóloga, formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com Psicoterapia há mais de 20 anos. Ministra cursos e palestras sobre temas relacionados ao aprimoramento humano na busca por uma vida mais rica e feliz. Autora de inúmeros artigos publicados no jornal paranaense Gazeta do Povo, suplemento Viver Bem, e atualmente veiculados através da internet. Recentemente, Mariliz lançou os livros 'A Sabedoria do Não' e 'Você É Mais Forte Que a Dor', pela editora Rosea Nigrea.
Matéria retirada do site da Revista ZN.
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